Páginas

quinta-feira, 22 de julho de 2010

FOLCLORE

E POR FALAR EM FOLCLORE ...

Francisco Mesquita.
Professor, Poeta e Crítico Literário.

"Mais vale um hoje do que dois amanhãs."
(Ditado popular)

No final de 1997, tomamos conhecimento da existência de "Meu livro de Folclore", escrito por Ricardo Azevedo e publicado pela Editora Ática. Incorporado ao catálogo de livros infantis da Editora, o livro ultrapassa de largo tal classificação, alicerçando atividades de pesquisadores e curiosos do nosso folclore. Subtítulado "um punhado de literatura popular", o livro prima pela apresentação de textos que, apesar de serem de domínio público, se encontram em quase-esquecimento, devido à falta de cultivo de nossa sociedade pós-modernizada.

"Meu livro de Folclore" traz adivinhas, trovas, trava-línguas, parlendas, provérbios e frases-feitas, elementos indispensáveis à formação da sensibilidade cultural e poética de nossa infância e, também, necessários à nossa prática lingüística durante toda a vida. Além disto, o livro traz contos diversos: de encanto, de esperteza, de riso, de susto. Textos cujo teor poético assoma-se à beleza popular que o motiva, tornando-os particularmente próximos daqueles que se preocupam com sua Identidade (cultural, lingüística, ideológica, folclórica). Há de se destacar, ainda, neste livro, a leveza brincante das ilustrações feitas pelo próprio Autor.

Ao final, afirma Ricardo Azevedo: "com este livro, tentei compor um minúsculo painel mostrando, pelo menos um pouco, a poesia, o encanto, o mistério, a sabedoria, a malícia e a alegria de um dos inúmeros aspectos do folclore: a 'literatura' popular." (p.71). O livro constitui-se, enfim, num brilhante exemplo de resgate da cultura folclórica de nosso país - tão rico em manifestações, que seria difícil enumerá-las por completo.

E, por falar em Folclore... qual não foi nossa surpresa: Em meados deste ano surge o "Armazém do Folclore". Em dimensão maior ("Armazém"), Ricardo Azevedo publica pela Editora Ática diversas "braçadas" de literatura/popular; pois, amplia de uma maneira muito fértil e producente a proposta do "Meu livro de Folclore", intensificando e modificando os elementos já citados e acrescentando um grande número de outras manifestações folclóricas.

Assim, são acrescidas: quadrinhas, novas versões de contos populares, lendas, receitas, brincadeiras com a linguagem (língua do P, por exemplo), interpretações de provérbios e frases-feitas, etc.. São 125 páginas ilustradas, fruto de um estudo árduo de manutenção da sabedoria popular, da qual emana o folclore. Para o Autor, o "Armazém do Folclore" é "um riquíssimo depósito de conhecimento humano a respeito da vida e do mundo, criado a partir de uma forma de pensar ao mesmo tempo pragmática, intuitiva, lúdica e corporal, sempre atual e em permanente estado de recriação." (p.127).

Sem dúvidas, a utilização destes dois livros na escola, entre tantos, tende a se tornar um vigoroso antídoto cultural contra as mesmices da globalização e, também, um precioso instrumento para auxiliar a preservação e a recriação destes elementos (cada vez mais escassos na boca do povo). "Meu livro de Folclore" e "Armazém do Folclore" são livros dignos de louvor... e leitura. Todavia, são textos cuja circulação não deve ser estrita à escola, devem avançar em direção aos leitores e pesquisadores de todo o país; seguindo os passos de Veríssimo de Melo e Câmara Cascudo, entre poucos. Autores cuja sensibilidade poética alia-se ao interesse pelas raízes folclóricas e manifestações culturais de nosso povo - Brasil.

Nos limites entre o popular e o infantil, o folclore passeia e encanta; faz-nos sentir o prazer de uma vivência (nunca morta!) tolhida, escondida, pela pressa-cotidiana, constituindo-se num rico acervo de "humanidade". Por isso, a relevância (e urgência) destes dois livros.

E por falar em folclore ... "O que é, o que é, que está no começo do meio, no meio do começo e no término do fim?".

* * * * *

Nenhum comentário:

Postar um comentário